A própria atriz Débora Falabella define como absurda a história da peça
"Contrações", em cartaz no CCBB, em São Paulo. É absurda por parecer
improvável mas ser completamente real. No palco, uma funcionária e uma gerente de
RH de uma grande corporação, interpretadas, respectivamente, por Falabella
e Yara de
Novaes. Com texto do autor britânico Mike Bartlett e direção de Grace Passô, a trama
aborda a relação
de submissão ao mundo de trabalho. Em
prol da produtividade e do bem-estar da equipe, a gerente de RH esmiúça a vida
pessoal da colaboradora, que pouco a pouco vai se perdendo - ou, numa outra
visão, encontrando-se - para obter sucesso profissional.
Sucessivas reuniões entre as personagens ocorrem ao longo da encenação, possibilitando uma analogia à sensação de se chegar ao local de trabalho com a impressão de sequer ter ido embora no dia anterior. Uma das cenas mais fortes é quando Débora aponta para sua
colega de cena, encara o público e questiona: "O que é isso aqui à minha frente?", referindo-se ao modo
robótico, nada humano com que a personagem de Yara trata das questões. Conforme
os conflitos vão se acirrando, a temperatura diminui, reforçando a frieza que
existe nas relações apresentadas.
Mais que questionar o modo como equilibramos esses
dois aspectos tão importantes da vida - o pessoal e o profissional -, "Contrações"
nos lembra de algo muito importante que muitas vezes é esquecido: acima de
tudo, somos pessoas que se relacionam com outras pessoas.
*Crítica de Andi Pereira, colaborador deste blog. A
peça "Contrações" fica em cartaz até 9 de dezembro, no CCBB, com sessões aos sábados, domingos e
segundas.